terça-feira, 30 de agosto de 2016

Especial Círculo das Ideias (Conto por Conto): O mundo sombrio de Robert E. Howard #6: "Os filhos da noite"

HAVIA, EU ME LEMBRO, seis de nós na sala de estudos bizarramente decorada, com todas suas fantásticas relíquias de todas as partes do mundo e as longas fileiras de livros que iam da edição de Boccacio, das publicações Mandrake e um Missale Romanum, encadernado em tábuas de madeira de carvalho enganchadas e impresso em Veneza, 1740. Clemants e o Professor Kirowan haviam recém iniciado um debate antropológico um tanto exaltado: Clemants defendia a teoria de uma distinta raça alpina separada, enquanto o professor defendia que essa suposta raça era meramente uma variação de uma linhagem ariana original. Possivelmente o resultado de uma mistura entre as raças do sul ou do mediterrâneo com o povo nórdico. - Robert E. Howard

Imagem de Leandro Moura
O conto traduzido por Daniel I. Dutra e ilustrado por Leandro Moura trás novamente o personagem John O'Donnell para o mundo ficcional do livro em questão.

O conto remonta todo o universo ficcional até agora mostrado pelo livro: reencarnação, espada, magia, o questionamento sobre a existência ou não dos "deuses antigos" e o reino dos pictos. Mas eu vou deixar isso um pouco de lado e vou focar no autor em si e no personagem principal da narrativa.

Robert escreveu pelo menos dois contos fazendo alusão a O'Donnell. As Mordidas do Urso Negro e "The Brazen Peacock". Tendo o mesmo sobrenome mas não sendo o mesmo personagem, Kirby O'Donnell aparece no mundo Howardiano nos contos "The Treasures of Tartary", "Swords of Shahrazar", "The Curse of the Crimson God".

Em determinados parágrafos podemos ver o pensamento de Howard sobre a literatura de terror e algumas críticas aos escritores desse gênero e um elogio aos seus mestres e a um colega em especial...
Um sacrifício vudu pode sere descrito de uma forma tão tediosa que apaga o verdadeiro fantástico, e deixa um mero assassinato sórdido. Admitirei que poucos escritores de ficção alcançaram o verdadeiro auge do horror, a maioria dos seus trabalhos é muito concreto, utilizam muitas formas e dimensões demasiadas mundanas. Mas em contos como "A queda da Casa de Usher" de Poe, "O Selo Negro" de Machen e "O Chamado de Cthulhu" de Lovecraft os três mestres dos contos de horror na minha opinião, o leitor é conduzido à regiões sombrias e desconhecidas da imaginação.
Da esquerda para direita: Edgar Allan Poe, Arthur Machen e H. P. Lovecraft
Para aqueles que não conhecem, A queda da Casa de Usher reúne todos os elementos que consagraram Poe: a casa em ruínas com aura decadente, o homem absorto em estudos esotéricos, o sepultamento prematuro e a femme fatale morta que se levanta dos mortos. Já Machen é a nova aposta da Clock Tower no próximo semestre e inspirou muitos elementos da obra de Howard (como o Povo Pequeno) e finalmente H. P. Lovecraft, criador do Cthulhu Mythos e grande amigo de Howard.

Sendo uma mistura de diferentes tipos de terror e fantástico, faço as minhas palavras a de Stephen King: a escrita de Howard é tão carregada de energia que quase desprende faíscas.

O AUTOR


Robert E. Howard nasceu em 1906, em Cross Plains, Texas, Estados Unidos. Criador de personagens variados como Conan, o bárbaro, Bran Mak Morn e Solomon Kane, fundou o que hoje é chamado de gênero literário ''Espada e Magia''. Influenciado pelo conceito de G.K Chesterton de ''história condensada'' que ''o valor principal da legenda para misturar os séculos, preservando o sentimento" ele cria a Era Hiboriana que une as eras históricas e culturais de maneira ampla: Europa medieval (Aquilônae Poitain), à fronteira americana (a imensidão picta e suas fronteiras), e dos cossacos (Kozaki) aos piratas elisabetanos (Free Broterhood). Autor de narrativas cheias de ação, magia e selvageria, se notabilizou no início do século XX como um dos expoentes da literatura nas Revistas Pulp. Se suicidou em 1936 após saber que sua mãe caiu em um coma terminal, deixando um grande legado literário.