terça-feira, 4 de outubro de 2016

Redescobrindo a loucura amarela - O Rei de Amarelo (Robert W. Chambers) [ATUALIZADO]

Por volta do fim do ano de 1920, o governo dos Estados Unidos havia praticamente completado o programa adotado durante os últimos meses da administração do presidente Winthrop. O país estava aparentemente tranquilo. Todos sabiam como foram resolvidas as questões tributárias e trabalhistas. A guerra com a Alemanha, em um incidente pelo embargo, por parte desse país, às Ilhas Samoa, não deixou cicatrizes visíveis sobre a república, e a ocupação temporária de Norfolk pelo exército invasor fora esquecida na alegria de repetidas vitórias navais e com a subsequente e ridícula situação das forças do general Von Gartenlaube no estado de Nova Jersey. Os investimentos cubanos e havaianos lucraram cem por cento e o território de Samoa, como um posto de abastecimento de carvão, bem valeu seu custo. O país estava em um estado esplêndido de defesa. Cada cidade da costa havia sido bem-provida de fortificações em terra; o exército, sob o olhar parental do estado-maior, organizado de acordo com o sistema prussiano, ampliou-se para trezentos mil homens, com um contingente reserva de um milhão; e seis magníficas esquadras de cruzadores e navios de guerra patrulhavam as seis estações de mares navegáveis, deixando-se uma reserva a vapor amplamente preparada para controlar as águas locais. Os senhores do Oeste haviam, finalmente, sido compelidos a reconhecer que uma universidade para o treinamento de diplomatas era tão necessária quanto escolas de direito são para a formação de advogados; consequentemente, não éramos mais representados por compatriotas incompetentes. A nação estava próspera. Chicago, por um momento paralisada depois de um segundo grande incêndio, havia se levantado de suas ruínas, branca e imperial, e mais bonita que a cidade branca que fora construída para diversão da nação em 1893. Por todos os lugares, a boa arquitetura estava substituindo a arquitetura de má qualidade, e, mesmo em Nova York, um desejo repentino por decência havia varrido uma grande porção dos horrores existentes. Ruas foram alargadas, propriamente pavimentadas e iluminadas, árvores foram plantadas, praças foram projetadas, estruturas elevadas foram demolidas e vias subterrâneas construídas para substituí-las. Os novos edifícios governamentais e quartéis eram amostras excelentes de arquitetura, e o longo sistema de píeres de pedra que cercava completamente a ilha havia sido transformado em parques que se revelavam como uma bênção à população. O subsídio para o teatro e a ópera estatais trouxe sua própria recompensa. A Academia Nacional de Design muito se assemelhava às instituições europeias do mesmo tipo. Ninguém invejava o secretário de Belas-Artes, muito menos seu gabinete e sua pasta. O secretário de Silvicultura e Preservação da Caça gozava de um momento muito mais calmo graças ao novo sistema da Polícia Montada Nacional. Havíamos lucrado bastante por meio dos últimos tratados com a França e a Inglaterra; a expulsão dos judeus estrangeiros como uma medida de autopreservação, a criação do novo estado negro independente de Suanee, o controle da imigração, as novas leis concernentes à naturalização e a centralização gradual de poder no executivo contribuíram para a calma e a prosperidade da nação. Quando o governo solucionou o problema dos índios e esquadrões de patrulheiros da cavalaria indígena em vestimentas nativas foram substituídos por organizações deploráveis, atreladas à retaguarda de regimentos moldados por um antigo secretário de Guerra, a nação soltou um longo suspiro de alívio. Quando, depois do colossal Congresso de Religiões, o fanatismo e a intolerância foram enterrados em suas sepulturas, e a bondade e a caridade começaram a unir seitas antes inimigas, muitos pensaram que o milênio chegara, ao menos no Novo Mundo, que, afinal de contas, é um mundo por ele mesmo. - Robert W. Chambers

Um dos livros redescobertos no ramo do terror e que tem chamado muita atenção é "O Rei de Amarelo" de Robert W. Chambers. Sendo uma coletânea de contos de terror cósmico publicada em 1895 e considerada um marco do gênero, influênciou vários autores - Lovecraft, Neil Gaiman, Stephen King e Nic Pizzolatto: produtor e roteirista criador da série True Detective que traz elementos da obra.

Pintor e ilustrador, que estudou em Paris e participou da boêmia local e entrando em contato com ela, Chambers a descreve fazendo praticamente um registro autobiográfico.

Assim como Shakespeare em Hamlet com uma peça dentro de uma peça, Chambers faz um livro dentro de um livro. Na verdade, uma peça teatral dentro de um livro. Ela é a personagem que liga a todos de uma só vez. Amaldiçoada, quem lê seus dois atos perde o juízo e condenando sua alma a perdição.

Duas edições que eu tomei conhecimento desse livro no Brasil é a da Editora Clock Tower e da Intrínseca. Elas são muito diferentes em si. Enquanto a da Clock Tower é capa dura e contem apenas os textos do "Rei de Amarelo" e as influências do autor: Edgar Allan Poe, Ambrose Bierce e um poema de Gustav Nadaud a da Intrínseca é dividido em duas partes: a fantástica e a realista. O conteúdo semelhante é de apenas quatro contos. Eles são: O reparador de reputações, A máscara, No Pátio do Dragão e O Emblema Amarelo.


Muito genuíno, embora não isento da extravagância maneirista típica da década de 1890, é o traço de horror nos primeiros trabalhos de Robert W. Chambers, desde então famoso por produtos de uma qualidade muito diferente. O Rei de Amarelo, uma série de contos vagamente relacionados entre si, tendo como fundo um livro monstruoso e sualmente atinge notáveis culminâncias de pavor cósmico,apesar do interesse desigual e do cultivo um tanto banal eafetado da atmosfera de ateliê de artista francês popularizada pelo Trilby de Du Maurier.[...] Outras das primeiras obras de Chambers que ostentam o elemento inusitado e macabro são O Fazedor de Luas e Em Busca do Desconhecido. Não se pode deixar de lamentar que ele não tenha levado adiante uma vocação em que facilmente se teria tornado um mestre consagrado. - H.P. Lovecraft

A Editora Dracco também fez sua versão, só que para quadrinhos:


Na mitologia lovecraftiana, Hastur tem uma relação de conflito com Cthulhu. Todas as vezes que seus servos se encotraram houve caos e destruição e também houve combates no espaço-tempo. Na novela "Nas montanhas da loucura" deixa subentendido que o sono de Cthulhu na terra é decorrente de um cobate com Hastur.