quinta-feira, 30 de março de 2017

Especial Círculo das Ideias: Realidades Adaptadas de Philip K. Dick #1 "Lembramos para você a preço de atacado"

ELE ACORDOU - e não estava em Marte. Os vales, pensou. Como seria caminhar entre eles? Ótimo, e melhor ainda: o sonho se tornava mais intenso à medida que ele despertava, o sonho se tornava mais intenso à medida que ele despertava, o sonho e o desejo. Ele quase pôde sentir a presença envolvente do outro mundo, que apenas agentes do governo e oficiais superiores conheciam. Um escriturário como ele? Improvável. - Philip K. Dick
Publicado originalmente na The Magazine of Fantasy & Science Fiction em abril 1966, Dick narra em um futuro não determinado as aventuras de Douglas Quail que leva a vida mediana de um trabalhador comum e que sonha em conhecer Marte, mas não tem condições financeiras para isso (sua esposa sempre demonstra que esse sonho é uma loucura).

Infeliz, Quail, então, vai a Rekal, uma loja que promete implantar memórias melhores que as experiências verdadeiras com uma vantagem a mais: ele iria viajar para Marte como um espião. Acontece que durante o procedimento, os técnicos da Rekal percebem que Quail talvez seja mesmo um espião...

Conto que inspirou O Vingador do Futuro (Total Recall) em 1990, estrelando Arnold Schwarzenegger e que teve seu remake lançado em 2012 com Colin Farrell no papel principal, nos mostra a fusão de realidade: memória falsa e memória real e quais os problemas gerados por ela.

SOBRE O AUTOR
Considerado por Ursula K. Le Guin como Jorge Luis Borges norte-americano, Philip Kindred Dick nasceu na cidade de Chicago em 1928. De 1955, ano de seu primeiro livro, até 1982, Dick publicou 44 romances e 121 contos, uma média de um romance a cada sete meses e um conto a cada 81 dias, sem parar, por 27 anos. Entre eles Valis, Ubik, Os Três Estigmas de Palmer Eldritch e os premiados O Homem do Castelo Alto (que dedicou para sua mulher Anne, que o desprezava dizendo que era um miserável e empalideceu ao descobrir os termos da dedicatória: Para Anne, minha mulher, de quem sem o silêncio eu não teria escrito esse livro) e Fluam, Minhas Lágrimas, Disse o Policial. O ritmo visivelmente frenético foi mantido à base de muita anfetamina – apesar dos boatos que sempre circularam à sua volta, Dick passou mais ou menos batido pelo LSD, a droga da moda na sua época, tendo apenas uma bad trip em toda sua vida (um boato divertido é que a revelação religiosa - ele foi durante a maior parte de sua vida adulta um católico convertido - que lhe ocorreu mais tarde seria um flashback dessa única viagem). Com dificuldades em ficar sozinho, teve cinco casamentos, um período de alguns meses em que sua casa se transformou num ponto de uso e tráfico de drogas, uma temporada voluntária numa clínica de reabilitação e até um par de semanas no apartamento de um casal de desconhecidos no Canadá. Morreu em 1982, aos 53 anos, em Santa Ana decorrência de um acidente vascular cerebral. Outros livros de sua autoria ainda seriam publicados postumamente, como Realidades Adaptadas, e é provável que ainda existam alguns por publicar...