segunda-feira, 30 de abril de 2018

Especial Círculo das Ideias: Sonhos Elétricos de Philip K. Dick #3: "Humano é"

Os olhos azuis de Jill Herrick se encheram de lágrimas. Ela olhou para seu marido com um horror inexprimível. - Philip K. Dick
Publicado na revista pulp Startling Stories em 1955, Humano é entra em um tema que permeia a obra do autor de certa maneira. Explorando diretamente a cerne o que é ser humano? PKD nos entrega uma história que visa a empatia acima de tudo. Ele quer mostrar que, não importa a sua natureza física (alienígena, humana ou robô) se você é uma pessoa gentil, empática, carinhosa, você é mais humano do que alguém que é cruel e indiferente.

O que nos difere de paus e pedras é a capacidade de sabermos nos colocar no lugar do outro. Nos importar com os nossos. E o problema não é biológico, é sobretudo moral. Consumidores de romances antigos, os Rexorianos falam de modo arcaico e se comportam de maneira bem diferente dos humanos e aprendem nosso comportamento a partir do convívio.


Bryan Cranston em Homem É, um dos episódios da série

A história novamente é atualizada pelas roteirista Jessica Mecklenburg. A diferença da série para o conto já começa pelos nomes. No livro, o personagem Lester é um cientista toxicologista insensível, egoísta e racional. No seriado, Silas (Bryan Cranston) é um coronel inflexível e áspero, doutrinado na disciplina militar. Sobre os dois, paira uma suspeita: serem possuídos por um alien, um rexoriano clandestino, e sua resposta está em suas respectivas mulheres, Jill e Vera (na série, Essie Davis).

Partindo de conceitos universais, a roteirista e o autor não só mostram que o mistério dos enredos não é saber se Lester ou Silas ainda são os mesmos, mas sim, entender o que eram antes. Ambas narrativas falam sobre a solidão e o vazio. A busca pela felicidade e os sacrifícios que estamos dispostos a fazer. É sobre a exploração do lado afetivo do ser humano, sobre relacionamentos abusivos e a o desejo de fugir para uma realidade melhor.

SOBRE O AUTOR
Considerado por Ursula K. Le Guin como Jorge Luis Borges norte-americano, Philip Kindred Dick nasceu na cidade de Chicago em 1928. De 1955, ano de seu primeiro livro, até 1982, Dick publicou 44 romances e 121 contos, uma média de um romance a cada sete meses e um conto a cada 81 dias, sem parar, por 27 anos. Entre eles Valis, Ubik, Os Três Estigmas de Palmer Eldritch e os premiados O Homem do Castelo Alto (que dedicou para sua mulher Anne, que o desprezava dizendo que era um miserável e empalideceu ao descobrir os termos da dedicatória: Para Anne, minha mulher, de quem sem o silêncio eu não teria escrito esse livro) e Fluam, Minhas Lágrimas, Disse o Policial. O ritmo visivelmente frenético foi mantido à base de muita anfetamina – apesar dos boatos que sempre circularam à sua volta, Dick passou mais ou menos batido pelo LSD, a droga da moda na sua época, tendo apenas uma bad trip em toda sua vida (um boato divertido é que a revelação religiosa - ele foi durante a maior parte de sua vida adulta um católico convertido - que lhe ocorreu mais tarde seria um flashback dessa única viagem). Com dificuldades em ficar sozinho, teve cinco casamentos, um período de alguns meses em que sua casa se transformou num ponto de uso e tráfico de drogas, uma temporada voluntária numa clínica de reabilitação e até um par de semanas no apartamento de um casal de desconhecidos no Canadá. Morreu em 1982, aos 53 anos, em Santa Ana decorrência de um acidente vascular cerebral. Outros livros de sua autoria ainda seriam publicados postumamente, como Realidades Adaptadas, e é provável que ainda existam alguns por publicar (tipo, Sonhos Elétricos).