segunda-feira, 7 de maio de 2018

Sobre o livro "Lula: A verdade vencerá"

Ato na praça Santos Andrade após o primeiro depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sérgio Moro em Curitiba;
10 mai. 2017
No dia 24 de janeiro de 2018, em Porto Alere, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve julagdo seu recurso à condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, proferida pelo juiz federal Sérgio Moro. Num jogo de cartas marcadas, três desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4° Região (TRF-4) confirmaram a sentença e ampliaram a pena anterior. Nenhuma prova foi apresentada. Do lado de fora, dezenas de milhares de pessoas, na maioria trabalhadores e estudantes, manifestavam apoio ao mais popular líder político que a classe trabalhadora brasileira produziu - Ivana Jinkings
Esqueça por um momento seus preconceitos e por um momento foque na história. Sim, na leitura histórica de todos os fatos ocorridos até agora.

Uma operação que trouxe informações deverás preocupantes e que derrubou presidentes, não só em solo nacional, mas internacional (o vice-presidente do Equador, dois ex-presidentes do Peru, o ex-presidente de El Salvador e o ex-presidente do Panamá). Todos condenados depois das investigações da Lava-Jato.

Somando só no Brasil, são 177 condenações contra 113 pessoas. Mais de 1.753 anos e 7 meses de pena divididos para mais de uma centena de atores políticos e econômicos, com influência de norte a sul do país.

Agora chegamos a questão do livro da editora marxista Boitempo. Com um trabalho gráfico espetacular mesmo feito às pressas (prestando atenção nas datas, o texto da Ivana Jinking, fundadora e diretora da editora Boitempo, foi escrito dia 08 de março, o lançamento do livro foi feito uma semana e um dia depois, 16), trás não apenas uma entrevista de algumas dezenas de páginas com o ex-presidente, mas também textos de seus apoiadores.

Eric Nepomuceno, Luis Fernando Verissimo, Luis Felipe Miguel, Rafael Valim, Camilo Vannuchi, Luiz Felipe de Alencastro e uma tirinha de Laerte Coutinho complementam o livro, que trás fotos de momentos marcantes da carreira política de Lula. Os responsáveis por essa entrevista foram os jornalistas Juca Kfouri e Maria Inês Nassif, o professor de relações internacionais Gilberto Maringoni e à editora (já mencionada) Ivana Jinkings.

O livro, mesmo a revelia, nasce para entrar na história. Provavelmente vai se tornar leitura obrigatória para muitos pesquisadores do período lulopetista. Mesmo com alguns tropeços no português, deve ser levado em consideração (vamos lembrar do tempo curto para fazê-lo). É um livro de defesa, enviesado, de ponto de vista. Muitas vezes, nota-se a intensão, o viés, pelas notas de rodapé. Como por exemplo, quando falam do Bolsonaro:

"Defende a ditadura [eles escreveram ditatura, mas corrigi] militar e os torturadores – na votação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, na Câmara, ao pronunciar seu voto, prestou homenagem ao coronel torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, que chefiou o DOI-Codi entre 1970 e 1974. Condena os homossexuais, o feminismo, a política de cotas; defende a tortura e a pena de morte. Nacionalista do ponto de vista econômico no passado, adotou a perspectiva neoliberal desde 2017"

Ou sobre o Juiz Sérgio Moro: 

"Depois de um período de popularidade por construir uma imagem de juiz inflexível no combate à corrupção, tornou-se patente sua atuação de cunho político contra a esquerda e, em especial, contra o ex-presidente Lula. A Lava Jato passou a ser cada dia mais uma referência de desvio do Poder Judiciário, com a prática de falsificação de provas, chantagem e ameaças contra aqueles que a força-tarefa considerou seus alvos."

O livro tem uma fluidez interessante. A entrevista acontece de uma maneira quase camarada - eles começam comentando as rodadas do paulistão, falam sobre futebol e dali partem para o que realmente nos interessa: o que ele tem a dizer. Tem pontos interessantes, mas o que mais marca é como em torno do presidente existe um beija-mão.

Entendam, estamos prestes a ter mais uma eleição para a presidência da república. E um fato é notório: o amigo do presidente sobe com o presidente, e o amigo que cai com o presidente não existe. Quando ele fala que a Dilma, depois de ganhar a eleição de presidente em 2014 fala que não quer participar de mais nenhuma campanha eleitoral é notório que existe todo um sistema de cortejar o vencedor até começar sua sangria. "Você vai passar para a história como a única presidente que nem os ministros defenderam" diz Lula para Dilma (pág 32).

Esse livro deve ser leitura obrigatória para todos os que são partidários. O atual problema que enfrentamos no debate público é repertório. A direita só lê coisas que a direita escreve, mesmo quando esses textos falam da esquerda. A esquerda só lê coisas que a esquerda escreve, mesmo quando esses textos falam da direita. Essa obra pode ser um divisor de águas para muitas pessoas. Para quem gosta de spoilers:

Lula fala detalhadamente sobre a relação com Eduardo Campos com Dilma Rousseff e de uma possível candidatura de Eduardo a presidência com apoio do PT após a conclusão do mandato de Dilma em 2018.

O livro está disponível para compra e para download gratuito.